sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Há dias assim!




Acordar… O despertador enervante, escolho desliga-lo e depois tenho de fazer tudo à pressa. Uma vez mais adormeci. Lá está a minha mãe, num tom de voz ainda mais enervante do que o despertador a repetir-me a mesma lenga-lenga de todas as manhãs. Isto não é maneira de começar o dia…

A roupa que vou vestir é a que está mais à mão, pode ser que ninguém repare que já usei estas calças ontem, “Juliana olha as horas, não vais para escola sem pequeno almoço, leva casaco, ontem não vieste dormir, não vou mais às reuniões de pais, estou farta da tua directora de turma encima de mim”, acho que já começo a suar só de a ouvir, sinto o coração num fervilhar tal que a minha única vontade é dar um berro daqueles de fazer estremecer os vidros. E a verdade é que cada segundo que passo em casa é uma luta constante entre o acalmar-me e guardar a raiva que estes comentários despertam em mim, ou simplesmente rebentar numa discussão violenta que nunca leva a lado nenhum… Isto não é maneira de começar o dia…

O pequeno almoço é basicamente sugado, não acordo com muita fome mas só para não ter de ouvir a minha mãe até faço um esforço, e lá vem ela para a cozinha, controlar os poucos movimentos que realmente pode controlar em mim, “vai para a cama, estás aqui a fazer o que…?”. Parece que a discussão se faz inevitável, a minha mãe está a ficar velh e eu não tenho paciência, lá vem a minha avó acalmar-me a falar da menopausa… Sabes há quantos anos ouço a desculpa da menopausa?! Sinceramente não sei qual das duas está pior, mas sei que cada momento que passam sozinhas é uma constante conspiração contra mim, quantas vezes chego eu a casa e as ouço em criticas blasfemas contra a minha pessoa, esta casa parece um campo de batalha… Depois vêm-me as duas, à vez falarem mal uma da outra, a minha mãe “ah porque e tal, já sabes que a tua avó já tem 80 anos, e parece que ainda vive no tempo do Salazar a censurar tudo aquilo que digo, sempre atrás de mim, temos que ter paciência…” quando a minha avó aparece ela cala-se, vai-se embora. E a minha avó “ah nunca mais lhe passa essa coisa da menopausa a tua mãe, está sempre apegada aos cães, faz-lhe mais companhia a eles do que a mim… ela não compreende que eu já tenho a minha idade… ah… não apagaste a luz da entrada…”
Será que eu tenho cara de livro de reclamações!?

Nestas ocasiões ir para a escola até se faz alívio, quero lá saber que se fundam ambas em manifestos contra mim, não quero é estar lá, ainda me fazem velha mais cedo do que o que quero.

Quando chego à escola percorro os corredores já silenciosos, por estarem todos em aulas, sala 17, bato a porta e a minha turma fica silenciosa, com olhares entre si de desprezo por eu ser sempre a mesma, a professora diz que já tenho falta mas eu entro na mesma, sei que no fim ma tira se não conversar muito. Pego no papel e na caneta e ponho-me a escrever… Uma escrita triste e melancólica, sabes que as coisas nem sempre correm bem, aliás, complicado é manter o sorriso com manhãs assim, mas penso, deixa lá, afinal hoje é sexta!
“Analisem o poema da pagina 134”, só por curiosidade, deixa lá ver qual é o poema.

Fernando Pessoa :


Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!




Ahh…! Ao menos de tantas escolhas que já tive, a da minha área sei que escolhi bem.
Depois vim para casa, e no meio de tantas ideias depressivas, poemas, e cigarros, aparece o teu texto, e eu penso “há coisas que não acontecem por acaso”, e consegues-me arrancar o primeiro sorriso de um dia que tinha tudo para ser desastroso. Linha após linha, a minha expressão vai mudando, a minha avó volta outra vez ao ataque, mas sinceramente já nem a ouço, discurso martirizante, está à espera da minha compaixão. Enfim. Como te dizia, não demorei nem um minuto a partir do momento que se esgotaram as tuas palavras e eu abri o Word, cheia de inspirações novas, às vezes tenho a sensação de que não falo de tudo o que pretendia. Mas tenho a vida toda para passar para o papel o que trago comigo, bem cá dentro, escondido, abafado… Sabes que nem sempre fui assim, antes era mais bixo-do-mato, que se escondia atrás de livros e músicas, que não queria saber nem de saídas à noite nem qualquer contacto com outros humanos o feriam, ou me feriam. Sabes que houve um dia que acordei do avesso, e disse para mim “chega”. E ate ali chegou. “Vou mudar, e começo hoje.” Mudança positiva que se estende até agora, no entanto nunca deixei de escrever, porque sim, a escrita nasceu comigo, nem sempre foi subtil como o é agora, e já escrevi coisas que não têm ponta por onde se lhe pegue, claro, é normal.

JUUUKA :) beijo

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pensando bem nada será por acaso...


foto: Amanda Com

Tu não sabias, mas eu adoro macnuggets. Imaginei-te imediatamente vestida com aquela farda. Com algumas alterações é certo, porque para ti teria que ser algo mais arrojado. Talvez um decote. Não que tu precises de te evidenciar por aí, mas nao consigo imaginar-te com a farda típica de quem trabalha na dita cadeia de fast food. Seria tão mais divertido ir ao MacDonalds comprar caixas de nuggets de 4, daqueles da promoção de 1 euro e encontrar o teu sorriso.
Mas não, não prevejo esse destino para ti. Não que esses trabalhos sejam vergonhosos ou menos dignos, mas encaixam apenas em pessoas que pouco sonham, e desculpa-me, mas isso não encaixa de maneira na pessoa que vejo em ti.
Temos um sonho em comum, um sonho chamado escrita. Desde que me conheço por gente que me lembro de sonhar com o mundo das letras. As vezes ainda me questiono se não terei saído da barriga da minha mãe já com caneta e papel em punho, e carregada de ideias mirabolantes prontinhas a ganhar vida.
Suponho que contigo não tenha sido diferente.
Ainda me lembro a primeira vez que cliquei no teu perfil do hi5. Não, não fui directamente para as fotos como a maioria das pessoas. Os meus olhos foram directos para a descrição que lá tens sobre ti. Devorei cada palavra que fui encontrando, não só por me identificar com a maioria do que lá tens escrito, mas principalmente pela forma como o expressas-te.
Sabes aquela sensação que temos quando lemos um livro, ou uma crónica de que aquilo está tão bem escrito que gostaríamos ter sido nós a escrever? Foi esse o meu sentimento na altura. Embora para mim, não fosse certo se terias sido tu a escrever aquilo, fiquei deslumbrada.
Meses mais tarde perguntei-te, e tive a resposta que queria ouvir. Sim…a autora daquelas palavras era mesmo aquela menina bonita que encontrei numa daquelas noites de loucura, embaladas pelo som e pelas substâncias que tanto gostamos as duas.
Mas havia mais. O que não foi surpresa nenhuma, afinal quem escreve algo como o que está no teu hi5, tem que gostar do sabor das letras, do encaixe das palavras, e tu não fugiste á regra. Escreves. Escreves muito e bem. O endereço do teu blog passou desde aquele momento a morar nos favoritos do meu pc e digo-te que quando fui ler, o consumi de uma vez só. Consumi-o com tal prazer que nunca mais deixei de o visitar. Esta foi também uma forma de eu conhecer um pouco mais a Ju, afinal as pessoas estão impressas naquilo que escrevem, e eu depois de ler-te gostei ainda mais de ti. Parece que conseguimos chegar mais perto uma da outra.
Escrever contigo e para ti cria em mim uma espécie de vibração. Sabes aquele empolgamento? De imaginar a tua expressão ao decifrares as minhas palavras. Sim, eu sei que sabes. E eu gosto disto, ainda mais sabendo que te faço crer em ti mesma. Sonhos distantes? Distantes ou não, serão sempre sonhos. E sabes o que eu costumo dizer? Eu sou a prova de que os sonhos nos levam sempre onde queremos chegar. Sonhos surreais? Isso era agora tu lembrares-te que querias ser actriz, sem que existisse em ti o menor talento para representar. Parte dos teus sonhos passam por aquilo que eu acredito que tu já tens…o dom da palavra.
E se reparares isto que nós estamos a fazer é precisamente continuar.
Já te contei a historia da menina que tinha muitos sonhos? Uma menina que um dia se lembrou de criar um blog, porque sempre acreditou que um dia ele daria os seus frutos. E deu… as visitas começaram a aumentar, as palavras de apreço em relação aos textos, os comentários a aumentar. E ela só agradecia e agradece o facto de todas aquelas pessoas alimentarem dia após dia o seu sonho. Em breve vai saborerar mais um fruto resultante do prazer de escrever. Mas não vai parar. Para ela isto é apenas o inicio de mais um ciclo…e como a vida é feita de etapas, a tal menina que tinha muitos sonhos que por acaso sou eu, quer iniciar mais um ciclo com outra menina que por acaso és tu.
Pensando bem nada será por acaso.
Tu, que tal como eu és adepta de que o que conta é o conteúdo e nunca a embalagem. Não me deslumbro demasiado com o embrulho sem antes espreitar o interior. O que não faltam são packs todos enfeitados que não passam de fraudes. Fraudes humanas, fraudes literárias…mas isto é outra história que daria já um texto de mil palavras. Vês, não somos muito diferentes. Perdemo-nos por entre assuntos e divagamos sobre isto e aquilo. E olha que não acho que isso seja mau…muito pelo contrário.
Eu e tu…porque somos embalagem com conteúdo. E esta é só mais uma forma de expressa-lo ao mundo.
Por isso esquece lá a ideia de servir Macnuggets, e já agora a do T0, porque eu imagino-te mais a escrever compulsivamente na tua casa de campo, enquanto o Mundo espera ansiosamente mais um livro teu. E claro, uma dessas pessoas será a esposa rotineira de um tal homem que já passou na tua vida. O tal que vai encontrar o teu livro na mesinha de cabeceira e dizer: “ Afinal ela é a prova de que os sonhos nos levam sempre onde queremos chegar.”
E enquanto ele olha vezes sem conta a capa do teu livro, nós estaremos rodeadas de pessoas interessantes e genuinas, embaladas pela magia da musica, inebriadas por sorrisos especiais a brindar mais um sucesso.

Um beijo e até breve
“ A de 28 “

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

“Não sei” ou “Quando souber…”



Se calhar não é o melhor titulo para iniciar o nosso blog, mas digo-te já, que amei a ideia desde o início, sabes que por vezes entre as tuas palavras surgem-me ideias ou apenas possíveis respostas, já tu crias as perguntas e também respondes, o que deduzo deve dar muito trabalho, mas como quem corre por gosto não cansa, quem não cansa não deixa de correr, e fazes-me acreditar que os meus sonhos não estão assim tão distantes e não são assim tão surreais. De certa forma dás-me força para continuar, tu e quem lê o que escrevo, porque se conseguir apenas que uma pessoa o faça já valerá a pena tudo o resto.

Sabes, melhor do que ninguém, que por vezes se faz complicado, que noutros autores e noutros livros, nos inferiorizamos, e sentimo-nos pequeninas, é nessas alturas que sinto que deveria acordar deste meu sonho, que nunca chegarei a lado nenhum, mais vale estudar, tirar o meu curso, ir para o desemprego ou ser mãe solteira, com dois catraios a pedir comida e a desarrumar-me o T0 que com esforço consigo pagar todos os meses, se calhar em trabalhos pouco legítimos, ou simplesmente vergonhosos, atrás de uma caixa de super-mercado ou a servir Mcnuggets, a clientes obeso-depressivos que desconhecem que atrás da farda mal cheirosa de Mcdonald´s se esconde uma artista incompreendida que nunca arranjou força para se revelar ao mundo e que as suas palavras se calaram nas gavetas do T0 mal cheiroso, por covardia a nunca serem reconhecidas…. Se calhar entre os meus deveres domésticos não terei tempo para chorar, ou para escrever, andarei anestesiada, talvez me perca na droga para me esquecer que podia estar em conferências, ou a dar discursos sobre o meu último livro, com algum título emocional ligado a palavras, sentimentos, mocas… sei lá. Amiga, para títulos não tenho muito jeito, até há bem pouco tempo não dava título a nenhum dos meus textos, depois decidi que o titulo não faria mal a ninguém e se calhar até chamava a atenção. Para um livro meu eu chamava-lhe “Não sei”, ou “Quando souber…”. Não te rias que estou a falar a sério, se calhar até ninguém o compraria, ou sim, pois um titulo desses suscita curiosidade… ou não?

Eu sou mais partidária do que vai dentro, não interessa a embalagem senão o conteúdo, e olha que há por aí grandes embalagens, com grandes artifícios e enfeites, que de conteúdo são penosos! Não falo só de livros, claro. Mas não vou começar a divagar pois já ia fugir ao assunto, e começar a falar de sexo ou do crescimento do pelo aos cães… Assuntos importantíssimos para um primeiro texto!
Resumindo, quero-te deixar aqui os parabéns, a minha sincera admiração pela forma como te destacas, e como escreves, e espero que um dia, as nossas palavras tenham força para iluminar todas as almas incompreendidas, senão serei obrigada a servir Mcnugget´s, e ninguém merece tal destino!!

Beijo, Juka!